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Não é hora de tolice


A parábola de Jesus sobre a Figueira Estéril (Lucas 13:6-9) é a historia do proprietário de uma vinha cuja paciência finalmente se esgota pela longa infertilidade de uma figueira muito favorecida e um cultivador intercessor que roga por mais uma oportunidade antes de aplicar o machado.
Deus é visto claramente no proprietário da vinha e Cristo no cultivador, enquanto o impenitente Israel é a árvore ameaçada. A questão entre o proprietário e o cultivador não é se o julgamento deve vir sobre a figueira sempre inútil, mas quando. Ainda que haja muita misericórdia e paciência nesta parábola, os tons sombrios da retribuição iminente predominam.
Conquanto entendendo que esta história ficou originalmente como uma advertência pictórica da proximidade do divino julgamento de um povo privilegiado mas rebelde, precisamos também extrair dela os imutáveis princípios que guiam o tratamento que Deus dá aos homens, em todas as eras.
O primeiro é que seremos julgados, não pelas aparências ou pela mera atividade, mas por nossa fecundidade. E a fecundidade esperada será determinada pela extensão do investimento de Deus em nós. Foi o amor concedido à sua amada vinha (Israel) e a expectativa que ela produziu que lhe deu tanto desgosto pela sua inutilidade (Isaías 5:1-7). Em Ezequiel, o Senhor observa que, apesar de todas as bênçãos especiais com que ele tinha coberto seu povo, este tinha se voltado para fazer coisas piores do que faziam os pagãos à sua volta (5:6). Bênçãos especiais acarretam responsabilidades especiais.
Este princípio não muda no Novo Testamento. Em conexão com um apelo aos servos de Deus para sempre estarem prontos para prestar contas, Jesus disse, “Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido” (Lucas 12:48). Isto deverá ser especialmente significativo para os cristãos sobre os quais Deus derramou o rico tesouro de suas bênçãos em Cristo (Efésios 1:3).
O escritor de Hebreus fala disto quando pergunta duas vezes como, em vista da rápida punição aplicada aos transgressores sob a lei, pode esperar escapar da fatalidade mais severa quem ainda negligencia “tão grande salvação”, como a declarada pela própria boca do Senhor e selada com seu próprio sangue (2:2, 4; 10:28-29). Nenhum discípulo de Jesus se sentiria confortável servindo-o com despreocupação indiferente em face de seu pesado investimento em nós. Suas expectativas são justas. Aquele que permanece nele, ele disse, “produz muito fruto” (João 15:5).
Mas o que este fruto vital poderá ser? Não poucos têm sugerido que, dado o propósito de Jesus em vir a este mundo (Lucas 19:10), deve ser conduzir almas perdidas à salvação. Não pode haver dúvida de que o discípulo de Jesus precisa tentar salvar os perdidos, e por mim, penso que haja uma grande possibilidade de um verdadeiro discípulo, que produz frutos durante sua vida, conduzir ou ajudar a conduzir muitos outros a Cristo. Mas ambos, o Velho e o Novo Testamento tornam claro que não é nossa máxima responsabilidade converter os não salvos, mas mostrar-lhes o caminho. A tarefa de Ezequiel foi advertir a obstinada casa de Israel (3:17-21), pois quer ouçam, quer deixem de ouvir, Deus disse: “... eles saberão que esteve um profeta no meio deles” (2:5). De sua própria responsabilidade, Paulo disse que era plantar e regar a semente enquanto os resultados eram deixados para Deus (1 Coríntios 3:6). Infelizmente, a tragédia para muitos de nós é semente não plantada nem regada.
Então, qual é o fruto que podemos produzir sem questão, que está totalmente dentro de nosso poder pela graça de Deus atingir? É uma vida piedosa, “cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Filipenses 1:11). É um caráter rico do “fruto do Espírito” (Gálatas 5:22-23) pelo poder do qual serviremos certamente cada propósito de nosso Pai no mundo.
E como, por este mesmo princípio, o trabalho das igrejas locais será julgado? Que tipo de igreja terá sucesso? Elas não serão medidas pelo tamanho que tiverem, ou por quanto dinheiro coletam e gastam, ou como o seu programa é ativo e se desenvolve eficientemente. Não. Nem mesmo finalmente pela habilidade de pregar. Elas serão antes julgadas pela qualidade do povo que elas estão produzindo para o discipulado na vida diária. Uma igreja local é um campo de treinamento para equipar o povo de Deus para o serviço fecundo enquanto elas crescem para a maturidade em Cristo (Efésios 4:12-13). Quando igrejas fazem isto, todas as outras coisas necessárias serão conseguidas.
A parábola da Figueira Estéril é tanto confortante como ponderada. Na bondade de Deus temos outra oportunidade se tenhamos vivido vidas espirituais de robôs, infrutíferas, mas o julgamento está vindo e o machado está posto na raiz das árvores. Que nenhum homem seja presunçoso.
–por Paul Earnhart

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Rico para com Deus

Elhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” (Lucas 12:16-21).
Assim falou Jesus à multidão reunida que tinha acabado de ouvi-lo reprovar um homem que não tinha visto nele mais do que um árbitro para uma contenda por dinheiro familiar. “Cuidado com a cobiça,” ele disse; e então contou a parábola acima para explicar o motivo. A Parábola do Rico Tolo é um espelho para a alma.
O agricultor desta parábola não era algum homem pobre que conseguiu riqueza subitamente. Ele já era rico quando uma grande colheita fez os seus já grandes celeiros parecerem pequenos. Não há indicação de que nenhuma das riquezas do agricultor tivesse sido mal ganha. Por tudo o que sabemos, ele ganhou cada pedaço dela com trabalho duro e gerenciamento prudente. Esta história não é sobre fraude. É sobre tolice. O agricultor, que tinha sido tão hábil gerindo sua propriedade, tornou-se um simplório ao gerir a vida. Ele cometeu algumas tolices muito óbvias.
Primeiro de tudo, ele cometeu o engano de pensar que era o proprietário de sua riqueza. “Minhas colheitas”, “meus bens”, “meus celeiros” e até “minha alma”, ele disse. Que arrogância! Que ingratidão! Como se ele, e somente ele, tivesse conseguido tudo isso. Não há nenhuma palavra pronunciada de agradecimento ao grande Deus que nos dá “do céu chuva e estações frutíferas, enchendo os vossos corações de fartura e de alegria” (Atos 14:17), para não falar de “vida, respiração e tudo o mais” (Atos 17:25). Em qualquer tempo em que pensarmos que merecemos as coisas que estamos usando, far-nos-ia bem verificar a relação da terra ou da casa em que estamos. Somos todos inquilinos aqui.
A segunda tolice foi pensar consigo mesmo sobre que disposição ele deveria dar a suas bênçãos inesperadas (12:17). Ele deveria ter consultado Deus porque o mundo e toda a sua plenitude são dele (Salmo 50:12). Mas isso nunca lhe passou pela cabeça. Nem ele pensou nos celeiros vazios das pessoas pobres e lutadoras para quem suas sobras teriam significado livramento. Ele só pensou em si mesmo.
Sua terceira tolice está em supor que o que ele pudesse colocar num celeiro fosse tudo o que ele precisava. Olhando sobre toda sua abundância, ele disse consigo mesmo: “Consegui fazer!” Ele pensava que estas coisas significavam conforto assegurado, felicidade e segurança. Admiramo-nos sobre em que mundo ele vivia. Como agricultor, praga, seca, inundação e roubo não lhe eram estranhos. É preciso cegueira incomum para imaginar que haja qualquer segurança em coisas materiais (Mateus 6:19). Mas é preciso estupidez ainda maior para imaginar que espíritos formados à imagem do Eterno possam jamais ficar satisfeitos e realizados com a mera matéria, mesmo que ela fosse eterna (Eclesiastes 5:10-11; 6:7). Fomos feitos para “o Deus vivo” (Salmo 42:2; Atos 17:26-28) e a vida provém do coração, não do banco (Provérbios 4:23).
Finalmente, nosso agricultor “bem sucedido” esqueceu-se do tempo e da morte. Ele estava pensando em muitos anos, mas Deus disse que não seria nem mais um dia. Sua riqueza foi para um lado e ele foi para outro. Não há bolso numa mortalha. Salomão fala freqüentemente desta verdade em Eclesiastes. “Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim. E quem pode dizer se será sábio ou estúpido?” (Eclesiastes 2:18-19). Não há tolice imperdoável maior do que planejar a vida sem considerar a morte, e construir a vida sobre coisas que a morte certamente tirará. A evidência de nossa mortalidade e incerteza da vida não é apenas premente, é irresistível. Nenhuma verdade sobre nós mesmos é tão evidente como o fato de que vamos morrer, e morrer em algum tempo imprevisível. E a única coisa que sobreviverá à morte é uma relação segura com Deus. Deveremos, portanto, derramar todas as nossas vidas e tesouros para ele, amontoados, comprimidos, transbordando.
Diz-se que Alexandre o Grande pediu para ser enterrado com suas mãos colocadas de tal modo que todos poderiam ver que elas estavam vazias. É também relatado que, quando a cripta do Imperador Carlos Magno foi aberta, ele foi encontrado sentado em seu trono, uma figura agora só ossos, apontando para um texto em uma Bíblia aberta: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8:36). É uma pergunta muito boa.
–por Paul Earnhart

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Bem-vindo à vizinhança

Nenhum amor tinha sido desperdiçado entre judeus e samaritanos desde os dias do Retorno, quando os chefes samaritanos intrigavam continuamente para evitar a reconstrução de Jerusalém. Nos dias de Jesus a relação entre eles ainda estava amarga. Os judeus não tinham negócios com samaritanos (João 4:9) e usavam esse termo como a máxima expressão de ofensa (João 8:48). As aldeias de Samaria não eram hospitaleiras para os judeus que viajavam através da região para Jerusalém (Lucas 9:51-55). Durante o reinado de Cláudio César, alguns samaritanos massacraram um grupo de peregrinos judeus na fronteira ao norte da aldeia de Ginae (Antigüidades, XX, xi, 1).
Isto explica porque Jesus usou um samaritano para ilustrar o significado de amor ao próximo. O exemplo falou diretamente ao preconceito judeu. Na história do Senhor, este pária mestiço foi o único que teve suficiente compaixão para se deter e ajudar um homem desesperadamente ferido (Lucas 10:25-37). Mais do que meramente tocado pela tragédia do homem, o samaritano agiu. Ele gentilmente tratou seus ferimentos e o transportou para a estalagem mais próxima, onde fez providências para o seu completo tratamento. Isto não foi um gesto de grandeza, mas de pouca duração. Sua preocupação e envolvimento foram totais.
Quando Jesus terminou de contar a história do homem roubado e espancado pelos ladrões e concluiu com a pergunta “Quem mostrou ser o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?”, o advogado que tinha começado esta conversa estava, provavelmente, desejando nunca ter aberto a boca. Ele tinha evidentemente levantado a questão sobre o que se tinha que fazer pra herdar a vida eterna meramente por amor à argumentação, mas Jesus tinha-o compelido a responder sua própria questão. Ele tinha feito a pergunta sobre quem era seu próximo somente para escapar do embaraço, mas agora ele tem que responder de novo. Não querendo nem identificar o samaritano, o advogado diz: “Aquele que mostrou misericórdia com ele”. Em conseqüência, Jesus muda tudo da teoria para a prática. “Vai, e faze o mesmo”, ele disse.
Lucas não registra o impacto de tudo isto sobre o advogado. Uma coisa é certa. Ele tinha aprendido bastante sobre o tamanho de sua vizinhança. Ela era tão ampla como o mundo todo, e seu próximo era qualquer um que precisasse de sua ajuda.
Houve outras lições, também. O sacerdote e o levita estavam errados, pondo o sacrifício adiante da bondade. Amar a Deus não torna uma pessoa sem misericórdia para com os homens. Jesus tinha uma vez defendido este ponto a partir das palavras de Oséias: “Misericórdia quero e não holocaustos” (Mateus 9:13). João, mais tarde, poria isto em termos simples. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4:20). Mesmo um compromisso de adorar a Deus não pode justificar o voltar as costas ao sofrimento. Se nos encontramos, em nossa paixão por Deus, abandonando toda a consideração por outros, podemos ter certeza de que estamos sob o domínio de uma paixão ilegítima. Há quem seja da tragicamente errada persuasão de que qualquer maltrato a outros é justificado quando se está tentando manter a verdade de Deus.
Mais outra lição é encontrada na verdade que o samaritano não estava respondendo a alguma nobreza [observada] no infeliz estrangeiro. Ele não tinha idéia do caráter moral do homem. Amor ao próximo não é resposta à bondade de outros, mas à sua necessidade. Tivesse o homem caído em tais desesperadas aperturas por seu próprio descuido, isso não teria mudado nada. Ele poderia ter sido um judeu que tivesse tratado samaritanos com desprezo simplesmente pelas lembranças agitadas das injustiças de outros. Não é fácil esquecer injúrias antigas e elas são rapidamente generalizadas a populações inteiras. Mas o verdadeiro amor ao próximo se move somente pela preocupação pelo que em circunstâncias similares se quereria para si mesmo. Não é uma resposta ao desinteresse dos outros, mas um ato de amor puro para com aqueles que talvez nunca nos tenham mostrado amizade de maneira nenhuma.
Finalmente, há esta lição fundamental, abrangente. Quando perguntado sobre quem obtém vida eterna, Jesus remeteu o advogado diretamente de volta às Escrituras. Em nossa busca por respostas a questões transcendentes, estamos indevidamente dispostos a pensar que a Bíblia seja muito difícil de oferecer respostas claras. O Senhor sabe mais. A palavra de Deus é bastante clara para aqueles que querem fazer sua vontade. Tivéssemos hoje em dia a oportunidade de ficar na presença do próprio Filho de Deus e levantar nossas questões difíceis com ele, Jesus nos diria o que disse ao advogado judeu. “O que está escrito na palavra de Deus? Como você a lê?” As respostas estão ali, basta termos coragem para recebê-las e aplicá-las.
–por Paul Earnhart

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Aprendendo a tomar bastante cuidado
A história do Bom Samaritano, contado por Jesus (Lucas 10:25-37), contém, em si, todo os ingredientes obrigatórios do moderno jornalismo: cobiça, crime, violência, sofrimento, ódio racial, indiferença social, amor e compaixão. O que, afinal, há de novo nela? O evangelho fala bem ao homem moderno.
Esta história foi contada por Jesus porque algumas vezes, durante o final do ano antes de ele morrer, um advogado (perito na lei judaica) interrogou-o sobre a maneira de se ganhar a vida eterna. Ele não estava pedindo informação, mas verificando para ver se o Senhor realmente conhecesse a lei. Estamos inclinados a imaginar seus motivos. Estava ele apenas tentando ser esperto e expor este “inculto” rabi? Estava ele impaciente sob os severos ataques que Jesus tinha lançado contra a hipocrisia e a ignorância de homens desta classe? Ou isso seria um esforço honesto para experimentar as declarações do Senhor? Para tais homens a lei era usualmente mais uma matéria de disputa do que um guia para a vida. Ele sabia bem o que ela dizia e respondeu rapidamente quando Jesus devolveu a questão ao “perito”. “Ame a Deus com todo o teu coração, alma e força, e mente, e a teu próximo como a ti mesmo”, ele disse. Rapidamente assim, Jesus situou o assunto onde deveria estar: “Você conhece a verdade, mas a vida vem por vivê-la”.
O advogado, deixado parecer um pouco tolo por perguntar uma questão tão óbvia, tenta recuperar-se por ter .perdido um argumento, levantando outro problema. “Isto tudo está bem e é bom,” ele parece dizer, “mas como saber quem é meu próximo?” Os escribas judeus faziam distinções muito cuidadosas entre “próximos” e “estranhos”. Jesus responde esta questão, não com outra questão ou afirmação exemplar, mas com uma história penetrante.
O cenário era familiar: a estrada de Jerusalém descendo até Jericó, uma descida íngreme que em 35 quilômetros desce 1000 metros através de uma desolação rochosa recortada por centenas de ravinas e despenhadeiros. Com exceção de uma moderna rodovia, a cena ainda permanece assim tão desolada hoje em dia. No tempo de Jesus, era um .antro de ladrões e bandoleiros.
A lição é levada pelo jogo dos caracteres que Jesus escolheu a se encontrarem “por acaso” naquele trecho desolado. Há, primeiro, a vítima desafortunada. “Um certo homem” que foi ferido seriamente, despido de suas roupas, e deixado pelos ladrões semimorto no deserto. Sem ajuda, ele estava destinado a morrer sozinho neste ermo árido. Ele poderia ser um homem qualquer, alto ou baixo, rico ou pobre. Pensamos nele como sendo um judeu, mas isso não é afirmado nem mesmo implicado.
Os ladrões
O s homens que o roubaram, tendo uma só coisa em mente, eram tão descuidados como uma alcatéia de lobos rosnando. Eles o usaram como a uma toalha de papel e o atiraram fora quando não teve mais utilidade. Nós não parecemos ser tão brutais, mas todavia usamos as pessoas, até mesmo em cenários religiosos. Usamo-las para alimentar nossos egos ou para satisfazer nossos próprios propósitos egoístas, e quando elas não mais nos servem, afastamo-las para o lado. É um tipo sofisticado de crueldade.
O sacerdote e o levita
N esta cena patética aparecem primeiro um sacerdote e um levita, homens notáveis sobre os demais por sua piedade religiosa. Sua presença nesta estrada não seria incomum, uma vez que estes servos de Deus especiais, duas vezes por ano, tinham que servir uma semana no Templo (1 Crônicas 24) e tinham que viajar de Jericó, uma cidade de sacerdotes, ou da Galiléia, através de Jericó, de modo a evitar Samaria. Destes homens, cuja tarefa era abençoar e servir seu povo, havia toda razão para se esperar compaixão. Não houve nenhuma. Eles passaram pelo “outro lado”. Mas a tragédia é que Jesus não está apontando isto para o incomum, mas para o usual: tão usual como ladrões na estrada de Jericó era esta “piedade” sem compaixão, que está preocupada com o sofrimento, porém não bastante para ultrapassar o temor ou a inconveniência. Eles, sem dúvida, tiveram boas razões para não parar: coisas mais importantes a fazer, não poder arriscar poluição para o serviço do Templo, não vale a pena dois homens serem roubados em vez de um, não se pode ajudar todas essas pessoas. Ou, talvez, como algum incrédulo humorista observou certa vez, eles puderam ver que o homem já tinha sido roubado! Sem dúvida expressaram seu ultraje por esta violência quando passaram cuidadosamente por ali.
Esta parte da história pode ter sido dirigida ao advogado, com sua religiosidade fria, didática; mas quem, entre nós, não se arriscou quando foi subitamente confrontado pela miséria física ou espiritual de outros? Somos afastados pelo risco que corremos, ou pela inconveniência de nosso horário, ou pela dor do sofrimento compartilhado ou pela simples demanda de tempo e dinheiro. Nós, também, podemos falar loquazmente sobre amar os outros, mas muito freqüentemente isso não tem significado.
–por Paul Earnhart

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A parábola da rede: pura finalmente!

Enquanto a parábola do joio pode ser suspeita de falar da questão da disciplina na igreja (contudo estamos fortemente persuadidos de que não fala), nenhuma tal possibilidade existe com a parábola da rede. Ela fala somente da remoção final do reino de todos os que não são verdadeiros discípulos. O reino de Deus não será sempre um lugar onde o motivo impuro, a tenebrosa concupiscência e a frieza espiritual podem disfarçar-se no meio dos justos, mas finalmente será limpo de tudo o que é pecaminoso. Os peixes jogados fora da parábola são os “ímpios”, e aqueles que os removem são “anjos”, e o tempo é o “fim do mundo”. O propósito de limpar a rede não redime. A rejeição é final. O julgamento é divino.
A imagem ideal do reino celestial é vista nas parábolas do tesouro escondido e da pérola de alto valor. Nestas parábolas, todos os que se tornam parte do reino o fazem ao nível de absoluta devoção. Todas as coisas são entregues ao domínio de Cristo. Mas a realidade é que muitos que se ligam ao reino não estão totalmente comprometidos ou não estão nada comprometidos. A parábola do semeador torna isto evidente. Entre aqueles que recebem o evangelho, alguns serão o solo raso e outros serão frios (o solo pedregoso e o terreno espinhento). Há várias ilustrações desta verdade no Novo Testamento — a igreja de Corinto com sua imoralidade e desunião carnal, as igrejas da Galácia com seus judaizantes, mestres de justiça pela lei, as igrejas a quem João escreveu suas epístolas, com seus profetas gnósticos de um evangelho novo e incrementado e cinco das sete igrejas da Ásia infestadas por várias maneiras de idolatria, imoralidade, falso ensinamento, insensibilidade e presunçosa complacência. Quanto ao presente, não é preciso muita observação nas igrejas do Senhor, no século vinte, para se saber que as coisas não mudaram. Ainda estamos perturbados, não simplesmente com a fraqueza momentânea ou com a ignorância daqueles que estão fazendo sua jornada para a maturidade espiritual, mas com arraigada mundanalidade e orgulho e uma consciente determinação de corromper a doutrina de Cristo.
Pode ser justamente objetado que, no Novo Testamento, tais aberrações espirituais nas igrejas ou nos santos individuais não foram aceitas com resignação. Paulo instou com a igreja de Corinto para que pusesse sua casa em ordem. (1 Coríntios 1:10), a não ter convivência com aqueles cristãos que estavam determinados a praticar modos pecaminosos (1 Coríntios 5:11-13). De fato, ele diz, usando a própria palavra grega escolhida por Mateus para registrar a parábola da rede (“o impuro”, ponerous), “afastai de vós a má pessoa [poneron].” Os mestres judaizantes perturbando as igrejas da Galácia eram anatematizados por Paulo como pervertedores do evangelho (Gálatas 1:6-9) e João exortou os leitores de suas epístolas a não dar santuário aos falsos profetas (1 João 4:1-3; 2 João 9-11). O próprio Senhor advertiu as cinco igrejas da Ásia moralmente e espiritualmente perturbadas a se arrependerem (Apocalipse 2, 3). Outras passagens indicam que as igrejas e os santos individuais não deviam suportar cristãos corruptos e infiéis entre eles (Romanos 16:17; 1 Timóteo 1:3-4; 6:3-5; Tito 1:9-13; 3:9-11).
A partir disto julgamos que o Senhor pretende que seu povo mantenha, da melhor maneira que puder, a si mesmo e às igrejas das quais fazem parte, livres de corrupção e impurezas. De outro modo, como poderemos ser “o sal da terra” e “a luz do mundo”, trazendo glória ao nosso Pai através de nossas vidas corretas? (Mateus 5:13-16). E como podemos ser vistos como “luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida”? (Filipenses 2:15-16).
E ainda que muito desejemos manter as igrejas dos santos livres de qualquer um que não seja comprometidos com Cristo, é uma meta que as limitações humanas não permitirão atingir plenamente. Conforme Paulo observou a Timóteo, “Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manisfestam” (1 Timóteo 5:24). As mesmas limitações que tornam impossível para nós levarmos julgamento final contra outros, tornam igualmente impossível para livrarmos a igreja absolutamente de todos os seus simuladores. Podemos e devemos agir em relação às atitudes e à conduta pecaminosas e abertas, mas, diferentes de Deus, não somos oniscientes. Os homens podem esconder sua vergonha de nossos olhos. Portanto, a limpeza final da igreja é deixada para Aquele que sabe todas as coisas. Por falar em julgamento final, Paulo adverte que “... nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” (1 Coríntios 4:5). A pureza perfeita do reino é para Deus cumprir, não para nós.
por Paul Earnhart

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Um reino perturbador de “toda espécie”

Novamente, “O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13:47-50).
Na parábola da rede Jesus recorre a outra imagem familiar do dia de trabalho do mundo palestino, uma que tem sido especialmente comum em volta do Mar da Galiléia. A rede de arrasto era uma rede de pesca muito grande, com pesos de um lado e bóias do outro que, quando arrastada das águas profundas para a praia trazia em suas malhas todas as criaturas da água. Obviamente, nem tudo era útil para alimento, especialmente entre os judeus, e tudo o que não era adequado tinha que ser removido. Jesus diz que em alguns particulares o reino do céu é como uma rede.
Esta última das sete parábolas contadas junto ao Mar e registrada por Mateus costuma ser ligada intimamente com a parábola do joio e lhe é dada uma interpretação semelhante. Tão diretas como estas parábolas pareçam ser, elas têm sido a fonte de muita controvérsia. A razão é que elas parecem rejeitar qualquer exercício de disciplina espiritual pela igreja contra os discípulos rebeldes; nenhum julgamento da retidão ou do erro de comportamento de cristãos sendo feito antes do julgamento final. Este é especialmente o caso da parábola do joio. Lutero resolveu este problema argumentando que os esforços para remover os ímpios da igreja eram somente proibidos quando se poderia também desalojar os verdadeiros filhos do reino. Mas isto discorda do fato que a ordem do fazendeiro aos seus trabalhadores para não removerem o joio é incondicional (Mateus 13:29-30). A falha interpretativa está no entendimento do campo na parábola como sendo a igreja antes que o mundo. Já indicamos nossa crença que a parábola do joio não está tratando da disciplina da igreja de modo nenhum mas sim do então surpreendente fato que o reino do céu teria que existir por algum tempo no meio de um mundo ímpio e inóspito (“O campo é o mundo”, 13:38). O julgamento sendo considerado não é disciplina corretiva, mas o julgamento final ou máximo, um julgamento que somente a mente divina tem direito e capacidade de fazer (1 Coríntios 4:3-5).
Aqueles que opõem este ponto de vista dão grande importância à afirmação de Jesus de que os anjos “ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade” (13:41). Mas o significado de “Seu reino” precisa ser entendido no seu contexto. O reino freqüentemente fala da igreja, mas às vezes ele pega toda a esfera do domínio soberano do Senhor, até aqueles que estão em rebelião (Lucas 19:14-15, 27; veja Efésios 1:20-23). Cremos que tal seja o caso da parábola do joio. O reino do céu foi destinado a trazer, não a paz imediata e triunfo, mas tribulação (Apocalipse 1:9; Atos 14:22; Mateus 5:10; João 16:33; 2 Timóteo 3:12). Por esta parábola os cidadãos do reino são instados a esperar pacientemente por sua vingança na glória do justo julgamento final do Todo-Poderoso. É uma parábola de conforto e de encorajamento para os santos rejeitados e sofredores.
Mas este não é o caso da parábola da rede. Esta é uma parábola escura e amedrontadora, uma parábola de julgamento e rejeição. Crisóstomo (*) chamou-a “uma terrível parábola”. E mais, o que negamos da parábola do joio, cremos ser verdadeiro nesta parábola, que se dirige ao caráter da igreja antes que ao mundo em geral, e que ela fala à máxima purificação da amizade dos santos. Aqueles apanhados pela rede nesta parábola, não representam todos os homens mas aqueles especificamente colhidos pelo evangelho. Assim o que não pode ser ensinado pela parábola do joio é certamente ensinado aqui. Até que Deus aja no julgamento final, misturados com os justos haverá aqueles que são “ímpios”.
Esta é uma mensagem difícil de aceitar. É isto que Jesus está dizendo? Isto significa que igrejas locais não podem excluir completamente os infiéis e profanos do seu número? A acusação comum de que a igreja é o viveiro da hipocrisia tem que ser aceita como inevitável? Estaremos destinados a ter que viver facilmente no reino com todos os tipos de heresia e imoralidade? São justamente tais questões como estas que nosso estudo desta parábola precisa responder.
por Paul Earnhart

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Encontrando o Máximo
Novamente, "O reino do céu é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía e a comprou" (Mateus 13:45-46).
Os antigos consideravam as pérolas como extremamente preciosas e ficavam fascinados por elas, como os modernos ficam com grandes diamantes. Explicações misteriosas eram dadas para sua formação e somas fabulosas eram pagas para possuí-las. Por esta razão os mercadores dos tempos antigos esquadrinhavam o mundo em busca dos mais belos espécimes e, conseqüentemente, proveram Jesus com uma ilustração muito irresistível da busca pelo máximo, o mais alto bem.
A mensagem da parábola do grande preço e a do tesouro escondido no campo são claramente a mesma. Os homens, em ambas as parábolas, reconhecem o valor do que encontraram e não hesitaram em vender tudo o que tinham para possuí-lo. Nenhum deles teve que ser seduzido ou engambelado para agir. Eles se movimentaram com alegre abandono. Assim, diz Jesus, é o reino do céu. Ele custa tudo o que possuímos mas é o bem de mais alto valor, o tesouro incomparável e a alegria de obtê-lo suplantará qualquer sentimento de perda. O custo do discipulado era um tema freqüente com o Senhor. Ele não queria nenhuma desilusão (Lucas 9:57-62). Sua linguagem era freqüentemente pitoresca. "Se alguém vem a mim e não aborrece seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14:26). Tais afirmações eram a expressão prática de sua exigência de absoluta lealdade. Aqueles que o seguiam tinham de ser preparados para abandonar tudo por amor a ele (Mateus 16:24-25).
Como é, alguém pergunta, que um reino dado pela graça de Deus tem que ser comprado a um preço tão alto? Primeiro de tudo, o valor incomparável do reino do céu coloca-o além da possibilidade de compra. Quando Deus dá a pessoas pecadoras o que elas não têm absolutamente nem direito nem capacidade de obter, isso tem que ser uma doação. Mas, por definição, o dom do reino ou do domínio de Deus não pode ser possuído por aqueles que não se entregarem totalmente a ele. O preço que pagamos para sermos seguidores de Cristo não é em coisas mas em nossa avassaladora afeição por elas; não em pessoas mas em nosso preeminente compromisso com elas; e não em posição ou prazer mas em nosso amor primordial por eles. O reino de Deus é encontrado onde "Cristo é tudo" (Colossenses 3:11). Tudo o que somos e temos precisa ser usado para servi-lo.
Mas se Jesus, nestas duas parábolas, fala do custo do reino, isso não é seu impulso principal. Nosso Senhor não nos chama pelo custo do discipulado, e sim pelas alegrias transcendentes de segui-lo. Não podemos persuadir um homem a atear fogo em sua casa dizendo-lhe como isso é deplorável. Se for uma pocilga, é a única que ele tem. Mas se lhe garantirmos alguma coisa muito melhor, ele alegremente a queimará e dançará em volta das chamas. Os dois homens desta parábola não abandonam tudo por causa de algum ascetismo perverso, mas porque encontram alguma coisa tão superior que faz com que aquilo que eles têm agora pareça nada. Assim, Paulo, ao jogar fora como lixo tudo o que ele anteriormente tanto estimava não fez um exercício de rilhar os dentes em negação de si mesmo, mas reagiu ao transcendente valor de Cristo (Filipenses 3:8-10). Como ele escreveu tão vigorosamente em Colossenses, "Cristo é tudo" (3:11), "a plenitude da Divindade" (2:9), aquele "em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos" (2:3). Quando os homens verdadeiramente vêem "a Glória de Deus na face de Cristo" (2 Coríntios 4:6), não podem mais ficar contentes com as fumaças e espelhos deste mundo. "Não é louco aquele que dá o que não pode ter para ganhar o que não pode perder"
Mas, como foi observado antes, há alguma diferença entre estas duas parábolas semelhantes. O homem que encontrou o tesouro escondido descobriu-o totalmente por acidente. Ele ficou surpreso e tomado pela alegria. O comerciante, por outro lado, tinha uma questão séria. Se houvesse alguma surpresa, foi porque ele encontrou o que estava buscando em uma única pérola. Freqüentemente nós imaginamos onde poderemos encontrar pessoas potencialmente adequadas para o reino. Estas duas parábolas nos dão a resposta. Elas aparecerão na forma de almas sinceras como a do nobre etíope ou a do soldado italiano, Cornélio, que estavam conscientemente procurando o reino. E serão encontradas entre aqueles como a mulher samaritana, cujas vidas estão ocupadas com o mundano e o imoral e não dão sinal de preocupação espiritual. Estes aguardam apenas a aproximação preocupada de um discípulo daquele que veio buscar e salvar os perdidos.
-por Paul Earnhart

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Possuindo o Que não Tem Preço
"O Reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. e, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo" (Mateus 13:44).
As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande preço são registradas somente por Mateus. Junto com a parábola da rede elas compõem o trio concludente de parábolas com as quais Jesus encerra sua série sobre a natureza do reino do céu. Diferindo das parábolas anteriores, dirigidas à multidão, estas aparentemente foram ditas em particular aos seus discípulos.
Duas parábolas contêm a mesma mensagem: o incomparável valor do reino de Deus. Mas cada uma tem seu próprio e único modo de apresentar sua lição e merece ao menos algum tratamento individual.
A única disputa real sobre o significado destas duas parábolas que afetaria radicalmente sua mensagem é sobre o que Jesus quis dizer nelas com "o reino".
Há quem defenda o ponto de vista onde o fazendeiro e o negociante, nestas duas histórias, representam Cristo (Lloyd John Ogilvie, A Autobiografia de Deus), e que o "tesouro escondido" e a "pérola de grande preço" representam a igreja, cuja redenção do pecado custou-lhe literalmente tudo, um preço que Jesus alegremente pagou. Não há motivo para disputar a verdade de uma tal idéia, mas a questão é se essa é a mensagem destas parábolas.
A palavra grega baseleia (reino) certamente inclui, por implicação, aqueles que são dominados, mas sua idéia raiz é o poder e o domínio do rei. O valor do reino do céu não se apóia principalmente naqueles que, pela graça divina, tiveram permissão para recebê-lo, mas na glória e no poder do Deus que reina sobre ele. Todas as parábolas de Jesus sobre o reino falam deste ponto, de como o reino cresce. Nada no contexto destas duas parábolas sugeriria que, nelas, Jesus voltasse sua atenção para longe de como ele estabeleceria seu reino entre os homens, para falar sobre o grande valor que ele dá a homens e mulheres perdidos. É um ponto válido defendido poderosamente em outros lugares, porém, cremos, não aqui.
Conversas sobre tesouros enterrados, no final do século vinte, trazem à memória o disparate semi-lendário sobre o botim do pirata escondido longe, em alguma caverna de uma ilha, onde aguarda sua retirada pelo afortunado. Mas na Palestina do primeiro século ela não foi tão forçada. A desordem que guerras e revoluções impuseram regularmente ao mundo oriental tornou necessário aos homens o enterrar de valores que não podiam seguramente carregar consigo quando forçados a fugir para salvar suas vidas. Algumas vezes, jamais voltaram para reclamar sua propriedade enterrada e a terra passou para aqueles que não tinham conhecimento do que estava enterrado nela. A Bíblia se refere a essa prática. O assassino que matou o governador caldeu de Judá poupou as vidas de dez homens para conseguir o rico armazém de mercadorias que eles declaravam ter escondido num campo (Jeremias 41:8). Era também a base de uma metáfora comum no mundo antigo. Jó falou daqueles que procuravam a morte "mais do que tesouros ocultos..." (Jó 3:21) e Salomão insta com os jovens a que busquem sabedoria "como a tesouros escondidos..." (Provérbios 2:4).
O homem, na história de Jesus, que encontra acidentalmente um valioso tesouro enterrado em um campo, claramente não estava numa caça ao tesouro.
Ele estava provavelmente apenas arando a terra de outro homem quando o arado bateu e expôs alguma coisa que não era nem pedra nem toco. Incrédulo de sua boa sorte, com o coração palpitando pela excitação, o homem rapidamente reenterra seu achado e vai justamente estourando de alegria secreta e vende tudo o que tem para comprar o campo. Pode-se bem imaginar que todos os seus amigos e vizinhos podem ter pensado que ele estivesse completamente louco, vendendo todas as suas apreciadas posses para comprar um campo que não valia metade do que estava pagando e rindo a bom rir enquanto tudo o que possuía entrava no leilão. Sendo a natureza humana o que é, eles provavelmente lhe disseram simplesmente que ele estava louco varrido e podiam bem ter tentado conter à força sua loucura. Mas absolutamente nada poderia detê-lo, nem o ridículo, nem ameaças, nem insulto; porque ele tinha visto, e sabia, que o tesouro oculto naquele campo valia tudo o que possuía e cem vezes mais.
O reino do céu é assim, Jesus disse, um tesouro tão fabulosamente grande que vale tudo o que um homem possui, cada relação que ele jamais teve ou espera ter, mesmo sua própria vida (Mateus 10:37-39; Lucas 14:25-26). Aqueles que acham o reino celestial serão provavelmente considerados loucos pelos ignorantes. Conta-se que George Bernard Shaw disse saber que havia vida no espaço exterior porque estavam usando a Terra como um asilo de insanos! Não é fácil ser são numa casa de loucos, mas quando sabemos o valor eternal do que encontramos em Cristo, não obstante todos os outros, a alegria desse segredo certamente nos levará através das mais duras perdas sem a menor queixa. Essa é a "alegria indizível e cheia de glória" que vem ao descobrir o significado da vida, o tesouro que vale todos os outros juntos.
-por Paul Earnhart

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Renovadas todas as coisas
A parábola do fermento nos relembra que Deus enviou seu Filho ao mundo não somente para perdoar, mas para transformar. Uma coisa tão imensa como a cruz nunca foi destinada meramente a providenciar misericórdia para nosso passado pecaminoso, deixando-nos os mesmos orgulhosos, egoístas e concupiscentes que éramos antes. Temos que ser mudados, e sobre essa transformação esta pequena parábola nos diz muito.
Antes de tudo, é uma transformação que precisa vir de fora. Arquimedes, o grego que descobriu o princípio da alavanca, certa vez observou, "Dêem-me um ponto de apoio e moverei o mundo". Este é o problema. O "mundo" precisa desesperadamente ser movido, mas não temos ponto de apoio fora dele. O fermento da renovação está além do poder humano e todos os sistemas de auto-ajuda estão condenados, por definição. Somos tão incapazes de reformular nossas vidas sozinhos conforme a justiça de Deus como somos de escapar ao justo julgamento de Deus pelos nossos pecados. Somente o fogo do céu é suficientemente poderoso para efetuar uma mudança tão radical. Pela graça de Deus fomos perdoados, e é por sua graça e poder que finalmente seremos totalmente renovados (Efésios 2:8-10; 3:14,21).
Em segundo lugar, é uma transformação que precisa ser operada por dentro. Muito pensamento político moderno, e mesmo religioso, apóia-se freqüentemente no mito que o homem é moldado pelo seu ambiente e que mudar suas circunstâncias mudará seu coração. A verdade está na direção totalmente oposta. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração," adverte Salomão, "porque dele procedem as fontes da vida" (Provérbio 4:23). A vida, seja boa ou má, emana da mente, e vida nova pode vir somente de um coração que foi voltado para novas direções. Portanto, como fermento na maça do pão, o reino do céu dirige seu ataque para dentro, sobre o coração.
Mudança externa feita sem a revolução interna é mera acomodação (Romanos 12:2), e sua superficialidade tira-lhe a estabilidade. Ela se evaporará diante da menor inconveniência. Em contraste, a mudança externa efetuada por um coração mudado é uma verdadeira transformação e sua profundidade dá-lhe uma imutabilidade obstinada (1 Coríntios 15:58). Este tipo de conversão não somente resiste ao domínio externo, mas exerce uma profunda e positiva influência nos outros. O coração é decisivo. Numa parábola intitulada "O Holocausto", Nathaniel Hawthorne pinta uma fogueira onde os homens estão queimando todas as coisas más do mundo. Satanás, observando, fica a princípio atemorizado, mas então ele se reanima e observa, "Ainda não estou desfeito. Eles se esqueceram de jogar o coração humano". Esta é a razão porque à religiosidade herdada, de segunda mão, ainda que verdadeira em forma, sempre faltará realidade e força (2 Timóteo 3:5). A massa nunca será fermentada. A vida nunca será verdadeiramente transformada.
Em terceiro lugar, é uma transformação que precisa tocar o todo de nossas vidas. Nem o menor segmento pode ser excluído, porque nessa lasca fininha se esconderá nossa vontade e nosso modo de ser. Nunca foi diferente. Deus sempre exigiu que os homens o amem e o sirvam na inteireza de seus corações (Deuteronômio 6:4; 11:13; 13:3; Jeremias 29:13).
Em última análise, é Cristo quem é o fermento. Cristo crucificado, sim, e verdadeiramente o Cristo das Escrituras. Mas ainda Cristo, a pessoa entrando pessoalmente por influência de seu notável caráter e vontade em cada recesso de nossos corações. Paulo definiu as riquezas e glória do mistério do evangelho quando ele disse que ele é "Cristo em vós, a esperança da glória" (Colossenses 1:27). O fermento do Filho de Deus entra em nossas vidas quando aceitarmos, não somente seu amor e perdão, mas também seu domínio. Há enorme poder pessoal ao sabermos que ele não tem intenção de nos deixar.
Nossas vidas são mudadas olhando atentamente a glória que há em Jesus (2 Coríntios 3:18). Há duas coisas que veremos olhando na face de Cristo. Primeiro de tudo, o que não somos. Nunca de fato os homens sabem quão profunda sua impiedade tem sido enquanto não olham com honestidade na face de absoluta santidade e justiça, que não viveu em isolamento celestial mas na suja realidade da carne humana. É uma experiência atemorizadora, mas absolutamente necessária para nossa transformação. Como jamais poderemos ser diferentes enquanto não soubermos quão desesperadamente precisamos sê-lo?
A segunda coisa que veremos na face de Jesus é o que podemos ser. Seja quanto for que sua santidade nos fez ver em nossa impureza, seu amor nos encherá ao mesmo tempo com uma visão do que sua graça e poder podem fazer-nos. Temos que ser "transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" (2 Coríntios 3:18).
E finalmente, precisamos ser no mundo o que Cristo tem sido em nós como o fermento da eternidade, sempre crescendo, expandindo, mudando-nos. As pessoas poderão ver o que pode acontecer com elas observando o que aconteceu conosco (Mateus 5:13-16).
Que a beleza de Cristo se veja em mim,
Todo a sua bondade e amor sem fim!
Oh! Que todo o meu ser possa se converter!
Que a beleza de Cristo se veja em mim!
-por Paul Earnhart

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A parábola do fermento: o contágio celestial
"Disse-lhes outra parábola: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado" (Mateus 13:33; veja também Lucas 20:21).
De todas as parábolas que Jesus ensinou ao lado do Mar da Galiléia, esta é a mais breve. Ela termina quase tão rapidamente como começa, deixando que nos agarremos com esta mensagem rápida e cortante. Tanto Mateus como Lucas registram esta parábola em associação imediata com a parábola da semente de mostarda, o que deixa a clara impressão de que ela, também, tem a ver com o modo como o reino se expande, ainda que seu impulso pareça mais para dentro do que para fora.
"O reino do céu é como o fermento..." Na lei de Moisés, o fermento era, com poucas exceções, proibido em oferendas, e durante a Páscoa todo fermento tinha que ser removido da casa (Êxodo 13:3; Levítico 2:11; Amós 4:5). Em todos os outros casos no Novo Testamento onde o fermento é usado como uma figura, ele é usado como uma má influência (Lucas 12:1; 1 Coríntios 5:7; Gálatas 5:9). Por esta razão alguns concluíram que o fermento nesta parábola simboliza uma força malévola, a sub-reptícia chegada da apostasia (J. N. Darby, Brief Exposition of Matthew, 1845, 40). Mas na parábola do fermento, como todas as outras da série junto ao mar, é explicitamente dito que ela pinta o reino do céu, e não o domínio de Satanás (Mateus 13:33; Lucas 13:20-21). Não há problema real aqui, uma vez que toda influência espiritual, tanto má como boa, trabalha do mesmo modo, e o uso diferente da mesma metáfora não é desconhecido nas Escrituras. Tanto Satanás como Cristo são comparados a um leão (1 Pedro 5:8; Apocalipse 5:5); mas no diabo é vista a ferocidade do leão negaceando sua presa, e em Jesus sua força e coragem. A pomba, em um lugar, é usada para ilustrar a tolice (Oséias 7:11) e em outro, a inofensiva simplicidade (Mateus 10:16).
"Que uma mulher escondeu em três medidas de farinha..." Como Buttrick observou, "Esta parábola sofreu muitas ofensas nas mãos dos alegoristas". Houve quem visse na mulher a igreja ou o Espírito Santo quando nada mais parece querer dizer além de que este é o tipo de trabalho feito costumeiramente pelas mulheres. Para Agostinho as três medidas de farinha representavam toda a raça humana nos três filhos de Noé; para Jerônimo e Ambrósio elas significavam a santificação do espírito, alma e corpo. Ainda que estas idéias possam em geral não estar muito longe do significado da farinha, as três medidas com toda probabilidade sugerem simplesmente nada mais do que a quantidade costumeira de massa usada no mundo antigo para assar pão (isto é, cerca de um alqueire, pouco mais do que 35 litros - Gênesis 18:6; Juízes 16:19; 1 Samuel 1:24).
A parábola do fermento parece falar da serena transformação que o reino de Deus opera no espírito humano e do modo sem ostentação pelo qual ele passa de coração a coração. Assim, o fermento, como a luz e o sal (Mateus 5:13-14), é um agente mudo mas poderoso. Justamente desse modo Jesus trabalhou entre os homens: "Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir sua voz na praça" (Isaías 42:2-3; Mateus 12:17-21). Contudo, seu trabalho nunca foi secreto nem furtivo: "Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto" (João 18:20).
A obra do fermento também é interna e invisível. Esta parábola é uma declaração poderosa de natureza espiritual do reino. Foi este mesmo ponto que Jesus uma vez apresentou aos fariseus: "Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós" (Lucas 17:20-21). A revolução radical do reino de Cristo (diferente dos reinos dos homens, João 8:36) iria explodir silenciosamente dentro, operando uma completa transformação do coração. O fermento precisa portanto simbolizar o evangelho como opera invisível no espírito individual (1 Pedro 1:22-23) e então passa silenciosamente de um coração para outro (Atos 8:4).
A palavra de Deus é a semente em germinação da qual vem a nova vida de Deus, mas aqueles que foram tocados por ela também se tornam luz, sal e fermento no mundo (Mateus 5:13-14; Filipenses 2:15). Sua humildade de espírito e piedade de vida ornam "em todas as coisas, a doutrina de Deus" (Tito 2:10) e inevitavelmente atraem e então contaminam outros com o mesmo poderoso contágio celestial que mudou suas próprias vidas. O movimento de uma tão profunda força espiritual não é ruidoso nem clamoroso como um exército em marcha, mas firme, quieto e inexorável como uma planta tenra que primeiro penetra e depois trinca, e finalmente rompe a mais empedernida das rochas.
"Até que toda ficou fermentada..." Se temos que entender a massa como o coração de uma única alma, então é certo tomar o "toda" como um absoluto, porque em Cristo tudo é renovado (2 Coríntios 5:17); O todo da personalidade é penetrado. Mas se a massa simboliza o mundo, a parábola precisa ser entendida como falando da fermentação de todo coração honesto e bom e não de salvação universal (Mateus 7:13-14), ou alguma influência social universal ou uma humanidade não convertida. É inconcebível que aquele que veio "buscar e salvar o que estava perdido" jamais se preocupasse com o mero impacto social do evangelho. Com Jesus e seu reino era redenção pessoal ou nada (João 3:3-5).
-por Paul Earnhart

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O Reino do Céu - Qual o Tamanho da árvore?
No relato de Lucas da parábola do grão de mostarda, Jesus diz que o grão de mostarda "cresceu e fez-se árvore..." (Lucas 13:19). Já observamos que esta parábola ressalta mais o contraste entre semente e árvore do que a imensidão de seu crescimento final. Como A. B. Bruce observou, a parábola parece chamar mais a atenção para a pequenez do começo do reino do que para a grandeza do seu fim. Tão grande árvore como a que possa crescer de um grão de mostarda, ela nunca rivalizará com as verdadeiras árvores que sobressairão acima dela. As parábolas emparelhadas do grão de mostarda e do fermento parecem ser ambas destinadas a ilustrar o crescimento futuro e a influência do reino. Uma fala de seu crescimento extenso e visível, a outra da mudança espiritual intensa. Mas a questão que permanece é se Jesus está olhando para a parábola do grão de mostarda no vitorioso destino final de seu reino ou simplesmente para a crescente e visível influência espiritual do evangelho na História.
Os profetas falaram eloqüentemente do triunfo absoluto e final do reino messiânico. Isaías prevê que "o monte da casa do SENHOR será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros" (2:2). Daniel diz que o reino se tornará "em grande montanha" e encherá "toda a terra" (2:35) e que o domínio de seu Rei será "domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído" (7:14). Mas a escolha de Jesus da árvore de mostarda para ilustração do futuro do reino parece ser uma metáfora improvável com a qual descrever sua glória final. Parece ter sido escolhida de propósito para ressaltar a grande influência espiritual que o reino de Deus exerceria no mundo e na história, apesar de seu pequeno começo, e ainda não dar a seus discípulos nenhuma visão de glória mundana. Dentro do âmbito da geração deles o evangelho deveria ser "pregado a toda criatura debaixo do céu" (Colossenses 1:23) e tocar os corações dos homens desde Jerusalém "até aos confins da terra" (Atos 1:8). Mas seria a árvore de mostarda concebida para falar do crescimento da igreja até ser uma instituição de tal poder mundano que a sociedade dos homens ímpios tremesse diante dela? Esta visão parece mais afinada com a teologia católica romana ou com as especulações pré-milenares. O que as parábolas precedentes do semeador e do joio já disseram claramente é que o reino do céu é destinado a ser rejeitado pela vasta maioria dos homens e a estar em guerra com os filhos do diabo enquanto o mundo durar. Não há lugar nas parábolas para a igreja de Deus dominar suprema em algum renovado Santo Império Romano ou presidir sobre a absoluta paz e justiça de um milênio terreal. Haverá, sem dúvida, tempos quando o evangelho será mais "oportuno" do que em outros (2 Timóteo 4:2), mas tais tempos de paz e maior "crescimento em número" (Atos 9:31) são provavelmente sempre seguidos por períodos de oposição, retração e apostasia (1 Timóteo 4:1; 2 Timóteo 3:1-5; 4:3-4). Pessoas justas não são nunca destinadas a escapar da perseguição nesta vida (2 Timóteo 3:12).
A parábola do joio nos diz francamente que o tempo de glória final e triunfo para o reino virá "na consumação do século" (Mateus 13:39) quando o Filho do Homem enviar seus anjos, e eles "ajuntarão do seu reino [todos os homens vivos e mortos, Romanos 14:9, PE] todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade" (Mateus 13:41). Será então, e não antes, que ao mesmo tempo os perversos serão lançados na fornalha acesa, e "os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai" (Mateus 13:42-43). Será então que o reino de Deus encherá toda a terra, e o Senhor e seu Ungido, sempre tendo soberania absoluta, porão os reis da terra em completo ridículo e os destroçarão como um vaso de oleiro (Salmo 2).
É o modo do Senhor operar suas maravilhas por meio das mais humildes pessoas e circunstâncias e assim evidenciar que somente Deus poderia tê-las feito acontecer. Paulo diz do evangelho que "Deus ... escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.... a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus" (1 Coríntios 1:27,29). Assim, parece-me que jamais chegará o dia quando o povo de Deus se encontrará feliz na posição de glória mundana, sem ser corrompido por seu próprio sucesso. É pelas dificuldades que os cristãos são chamados a suportar que o Senhor assegura que somente os retos de coração virão. O Senhor conduziu Israel através de um deserto sem trilhas, sem mais coisa alguma a não ser sua promessa de sustentá-los, de modo que, na necessidade deles, ele pudesse conhecer o que estava em seus corações e eles pudessem saber que o homem não vive somente de pão, mas da palavra de Deus (Deuteronômio 8:2-3). Seremos, provavelmente sempre, um "pequenino rebanho" (Lucas 12:32) enviado pelo Senhor "como ovelhas para o meio de lobos" (Mateus 10:16), de modo que somente nele confiaremos.
Enquanto isso, o reino do céu será sempre uma árvore bastante grande para abrigar cada coração verdadeiramente arrependido que busque refúgio em seu Senhor, e uma árvore suficientemente despida de atrações mundanas para não ter encantos para os comedores de carniça que possam buscar abrigo em seus ramos para suas próprias sombrias e carnais razões.
-por Paul Earnhart

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Erva daninha no trigo: a parábola do joio
As parábolas que Jesus ensinou junto ao Mar da Galiléia (Mateus 13, Lucas 8, Marcos 4) destinavam-se a definir o reino de Deus tanto quanto o Sermão do Monte. Mas estas histórias e comparações tinham o efeito oposto sobre aqueles cujo coração tinha sido estupidificado pela religião mundana dos escribas e fariseus. Na escuridão de seu entendimento o reino do céu era ainda mais mistificado (Mateus 13:11-15). A razão é, como Robert F. Capon observou, que as parábolas de Jesus expõem retratos do domínio do céu que reduzem a picadinho as expectativas religiosas do povo. Pessoas "más" são premiadas. Pessoas "boas" são repreendidas. E, "em geral, a idéia de todo o mundo de quem deveria ser o primeiro ou o último leva liberalmente um banho de água fria". (The Parables of the Kingdom, pág. 15).
Mas não há maior mistério nas parábolas do reino do que a quase completa ausência de ênfase na simples providência divina — absoluta ou imediata — o tipo que pareceria inseparável da própria idéia de domínio de Deus. É ainda a crença geral que se Deus, que não é só completamente justo mas também poderoso, estabelecesse um reino, ele só poderia existir onde toda a impiedade fosse destruída. Se o seu é o reino da absoluta justiça, como pode ser dito, em qualquer sentido, que esse reino exista onde a impiedade não somente parece estar presente, mas até prevalece? Esta questão é, realmente, apenas a extensão de um assunto mais fundamental que tem deixado o homem perplexo durante séculos: como pode haver mal num mundo governado por um bom Deus? Para alguns é fácil. Se Deus quer estabelecer seu reino, qual é a necessidade de demora? Ele tem o poder. Por que ele simplesmente não quebra as cabeças, joga fora os canalhas e torna tudo lindo?
E aí há uma segunda questão semelhante que muitos, Trench entre eles, acreditam ser o assunto tratado nesta parábola. Como pode ser real o reino do céu se existe dentro dele todos os tipos de falsidade e hipocrisia?
Ainda que haja considerável controvérsia quanto a qual das questões acima a parábola de Jesus se refere, dificilmente pode haver qualquer dúvida séria de que ela fala de uma ou de outra delas. A história do joio semeado no campo, encontrada apenas em Mateus (13:24-30,36-43), segue imediatamente após a parábola do semeador. Nesta, Jesus já havia insinuado que a justiça (o solo bom) terá de florescer num mundo onde muitos rejeitam o reino de Deus (o solo da beira do caminho) e outros a receberão de modo superficial e infrutífero (solo pedregoso e espinhoso). Na história do joio ele parece recomeçar por onde parou na do semeador, para tornar explícito o que antes fora apenas sugerido. O reino do céu é, na verdade, destinado a crescer e abrir o seu caminho no coração de um mundo onde o mal não é somente muito vivo e ativo, mas continuará a sê-lo até que esse mundo acabe. Para dizer o mínimo, esta é uma surpresa, e para muitos, um choque incrível. Está pelo menos 180 graus defasado da idéia de muitas pessoas sobre o reino do céu. Para elas, o reino do céu não terá vindo até que toda a impiedade seja destruída. O reino tem que vir pelo paradoxo que Lutero chamou "o poder da mão esquerda" de Deus: dando para ganhar, perdendo para vencer, morrendo para viver.
"Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio" (Mateus 13:24-26).
Nossa reação imediata a esta parábola poderia ser, "Que tipo de fazendeiro é este, descuidado de manter as ervas fora de seu campo, dormindo quando deveria ter estado alerta?" Mas o fazendeiro desta parábola não é um homem negligente que não fez nenhum esforço para manter seu campo livre de ervas, passando seus dias dormindo quando deveria ter sido consciencioso. Seu trigal é forte. Ele dormiu somente quando os trabalhadores dedicados dormem: de noite. O problema é que ele tem um inimigo que não se deterá diante de nada para destruir aquilo em que ele não teve parte nem interesse em plantar. As ervas não são descobertas mais cedo porque elas não são esperadas e porque as ervas semeadas são tão parecidas com o trigo quando brotam que o seu disfarce não foi descoberto enquanto não começaram a pôr a cabeça de fora. O joio (em grego zizanion, especificamente cizânia, Lolium Temulentum), era uma gramínea anual que parecia muito com trigo até que amadurecesse. Arndt e Gingrich definem-no como "cizânia, capim-cevadinha, uma erva perturbadora nos trigais, parecida com trigo" (pág. 340). Thayer diz que é "um tipo de cizânia, trigo bastardo, parecendo trigo, exceto que seus grãos são pretos" (pág. 272).
Então por que essas ervas perturbadoras não seriam removidas imediatamente? Não porque não estivessem sugando o solo, e desafiando o trigo por nutrimento, e não porque não fossem agora facilmente identificáveis, mas porque qualquer esforço para erradicar as ervas, agora crescidas e enraizadas seguramente e misturadas com o trigo, arrancaria também o trigo. Esperem, o fazendeiro disse aos seus servos, "até a colheita".
-por Paul Earnhart

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O reino do céu: o semeador lançando a semente[Há relatos da primeira série de parábolas de Jesus em Mateus 13, Marcos 4 e Lucas 8. Quatro delas, provavelmente cinco, o Senhor dirige à multidão (Mateus 13:34): O Semeador, O Joio, A Semente de Mostarda, o Fermento, e uma que só Marcos registra, A Semente Crescendo Sem Ser Observada (Marcos 4:36-39). As restantes são contadas só aos discípulos (Mateus 13:36-53).]
"Eis que o semeador saiu a semear..." (Mateus 13:3). Era um  modo incomum do Senhor abrir um discurso sobre as  maravilhas do reino do céu. Poderia qualquer coisa ser mais laboriosa e ordinária do que um semeador e sua semente? Como poderia algo tão sem imaginação sugerir as glórias do domínio do céu? Sua metáfora era tranqüila. A vinda do reino do Messias seria certamente explosiva, arrasadora, cataclísmica. Não, disse Jesus, seria mais como um semeador semeando seu campo, e muita da sua semente dando em nada. Tudo dependeria do solo.
É bem possível que fosse no início da primavera quando Jesus tomou assento na proa de um barco de pesca na praia ocidental do Mar da Galiléia, e ensinou sua notável parábola. Ele logo estaria na praia oriental, alimentando uma multidão de pessoas com uns poucos pães e peixes (Mateus 14:13-21), e a festa da Páscoa "estava próxima" (João 6:4). Os campos que rodeavam Genesaré teriam sido semeados apenas uns poucos meses antes (janeiro, fevereiro). O cheiro deles deveria estar no ar e não haveria um homem nas multidões de ouvintes que não soubesse o peso de um saco de semente e a sensação do solo recém-arado. Era uma terra para plantadores e proprietários, um lugar para cultivar coisas, e a parábola da semente e dos solos não poderia ter encontrado uma audiência mais entendida.
A luz do início da primavera teria refletido como era jovem o mestre, e talvez como era comum a sua aparência. Nos seus olhos, a despeito das entusiásticas multidões que se comprimiam sobre ele, pode bem ter havido uma ponta de tristeza. Eles entendiam tão pouco agora, e a maioria jamais entenderia o evangelho do seu reino. E, contudo, alguns veriam. Alguns sempre veriam. E esta era a mensagem de sua história.
O povo que se tinha comprimido em volta para ouvir, naquele dia teria parecido de comum acordo às pessoas de menos discernimento. Tivéssemos nós podido juntar-nos a eles e dar uma olhada de perto, teríamos descoberto as diferenças. Alguns estavam sem dúvida escutando embevecidos, esforçando-se sinceramente para pegar cada palavra. Outros teriam sido vistos cabeceando em entusiasmo distraído, envolvidos pelo momento e a multidão. Ainda outros teriam estado ouvindo distraidamente, escutando e concordando, mas não dando atenção total à mensagem. E os escribas e fariseus — eles também estariam ouvindo — não para escutar, naturalmente, mas para achar os defeitos e salientá-los.
Saberia Jesus os pensamentos que estavam por trás dessas faces? Saberia ele os preconceitos, as escusas justificativas, as idéias que estavam forçando e infiltrando em cada palavra que ele falava? Veria ele as grades de proteção com que defendemos nossos corações de sua verdade? Certamente que sim. E nos adverte como os advertia, "Quem tem ouvidos, ouça" (Mateus 13:9).
(13:4). Quanto à disposição desta semente   que caiu na beira do caminho, Lucas acrescenta, "foi pisada" (Lucas 8:5).
o semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as  aves, a comeram"
Os campos da Palestina eram pequenos e irregulares, marginados por caminhos estreitos endurecidos pelo perpétuo pisoteio. E freqüentemente, quando o plantador espalhava sua semente sobre o solo recém-arado com largos lances de sua mão, alguma cairia e dançaria sobre a superfície dura, resistente, da "beira do caminho" onde todo o seu rico potencial por fim se tornava alimento para as aves.
O solo impenetrável, na história de Jesus, representa os ouvintes cujos corações estão endurecidos pela obstinação e o orgulho, corações que se tornaram a estrada de mil tempestuosas paixões, corações que em seu consciente compromisso com o mal não podem suportar a dor da honestidade. Pensamos imediatamente nos fariseus, e eles certamente estavam no quadro. Seus preconceitos arrogantes, egoístas sobre o reino de Deus, seus sonhos de esplendor e poder carnal, tornavam impossível para eles ver Jesus como o Messias ou escutar suas palavras como as de Deus. Hoje em dia, muitos seguem na trilha deles, tão cheios de uma caricatura moderna de Jesus que não podem ver o verdadeiro Cristo nem escutar suas palavras reais.
Mas de onde veio esta resistência de aço ao evangelho do reino de Deus? O que é que faz com que as pessoas, mesmo pessoas religiosas, se tornem tão duras contra este gracioso convite? Esta rigidez pétrea começa a se formar na primeira vez que aprendemos a viver facilmente com o que sabemos ser errado. Escutar cada nova verdade depende da prática da verdade que já conhecemos. Como John Ruskin observou certa vez, cada dever que omitimos obscurecerá alguma outra verdade que poderíamos ter conhecido. Portanto, em nossa aversão a escutar novamente a verdade familiar que não temos aplicado, fechamos nossos olhos e ouvidos à verdade que ainda precisamos desesperadamente conhecer.
-por Paul Earnhart
"A semente é a palavra de Deus"
Amultidão curiosa que tinha ouvido a parábola do semeador não a  entendeu. Mas, então, o que esperávamos? Nem os discípulos do   Senhor entenderam. "Então, lhes perguntou: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?" (Marcos 4:13).
Jesus parece ter começado com a história do semeador porque ela abordava um conceito tão fundamental do reino do céu que a incapacidade de entendê-la prediria incapacidade de entender qualquer uma. A salvação dos discípulos era que, ainda que verdadeiramente não percebessem seu ponto, eles queriam saber, e ficaram para perguntar mais sobre o que ele queria dizer e para ouvir a paciente explanação de Jesus.
A parábola do semeador contém três elementos: o semeador, a semente, e os solos. O semeador e a semente são constantes. O semeador é habilidoso e espalha a semente por igual. A semente é, indiscutivelmente, boa. Mas o trabalho hábil do semeador e a capacidade de germinação da semente dependem para seu sucesso da natureza do solo, e aqui é focalizada a parábola.
Quem é o semeador? Jesus não diz. Na parábola do trigo e do joio, Jesus diz que o semeador da boa semente é o "Filho do Homem" (Mateus 13:37), mas a preocupação naquela parábola são as origens contrastantes dos dois tipos de sementes. Aqui a identidade do semeador não é tão crítica. Quem quer que ele possa representar é essencialmente uma função do propósito da parábola. Se o seu intento foi ilustrar a resposta variável dos ouvintes à pregação pessoal de Jesus e forçá-los a um exame sério de si mesmos, então muito certamente o Senhor é o semeador. A aplicação, por Jesus, das palavras de Isaías a sua audiência, "Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos, e fecharam os olhos" (Mateus 13:14-15) parece sugerir essa interpretação.
Mas se, por outro lado, o propósito desta parábola foi também fortalecer os corações incertos de seus discípulos, esperando, como estavam, o reino para levar cada alma diante dele, então certamente eles e aqueles que semeariam o mundo com o evangelho depois deles teriam que ser parte deste complexo plantador.
O significado da semente é claramente demarcado para nós. "Este é o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus" (Lucas 8:11). Ainda que não seja a mensagem primária desta parábola, o fato que a palavra de Deus é o poder que constrói o reino de Deus precisa de ênfase.
Não há nenhuma mágica aqui, nenhuma energia esotérica mistificadora. Até as palavras dos homens têm poder. Elas comunicam sentimentos e idéias, criam culturas inteiras, levam homens à paz ou à guerra, mudam o curso da história, produzem grande mal ou grande bem. Por que nos surpreenderíamos, então, que a palavra de Deus tenha poder inimaginável?
Os mundos foram criados e são mantidos pela palavra de Deus (Hebreus 11:3; 1:3), e o sopro divino que está em suas palavras (Salmo 33:6) é o sopro que nos deu a vida (Gênesis 2:7). A palavra do Todo Poderoso responde aos nossos espíritos como a luz responde aos nossos olhos. Sua poderosa verdade viva penetra em nossos corações e põe a nu nossos mais íntimos pensamentos (Hebreus 4:12). É a palavra do evangelho que nos salva (Romanos 1:18; 1 Coríntios 1:21), e a "palavra da sua graça" que nos edifica e garante nossa herança entre o povo de Deus (Atos 20:23).
Esta parábola está nos dizendo, em linguagem simples, que a própria palavra de Deus é a semente germinante da vida (Filipenses 2:16), e não a palavra mais algumas misteriosas obras do Espírito Santo. É por esta própria palavra viva, que transmite energia, que o Espírito Santo não somente nos leva ao renascimento espiritual (Efésios 1:13; 1 Pedro 1:23-25), mas nos transforma na imagem do Filho de Deus. E tudo isto é possível porque em suas palavras Deus nos abriu seu coração e derramou as profundezas de sua verdade e graça (1 Coríntios 2:10-13). No evangelho, ele nos fez olhar na face de nosso crucificado Salvador (2 Coríntios 3:18). E isso tem poder!
É, portanto, sacrilégio homens e mulheres falarem do evangelho como "mera palavra" e rirem da idéia que o evangelho por si só é capaz de produzir uma nova e inconquistável vida espiritual. Não é prudente falar tão levianamente de palavras que saem da boca de Deus ou insultar o céu tentando fortificar esta palavra "inadequada" com nossas vãs filosofias (Colossenses 2:8-10; Provérbios 30:5-6). Até Satanás sabe onde está o poder. "A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo sejam salvos" (Lucas 8:12).
Mas não faz Deus mais do que apenas falar conosco? Sim, ele está certamente ativo em responder nossas orações (1 João 5:14:15), e providencialmente nos guiando através das provações e tribulações que limpam, fortalecem e purificam nossa fé (Romanos 8:28). Mas, em fim, é sua palavra que tem poder, e é para sua palavra que todo seu providente trabalho precisa nos trazer, em obediência compreensiva. É através dessa palavra que chegamos a conhecer Deus e seu Filho. E essa é vida eterna (João 17:3). A semente do reino é a palavra de Deus.
-por Paul Earnhart

Calculando o custo
A parábola do semeador é uma declaração da natureza interna do reino  do céu. Ele é, uma vez Jesus disse, um reino "dentro de nós" (Lucas   17:20-21). A revolução é real, mas não vem "por observação". O reino de Deus só entra através do coração. Ele nasce pela semente e não pela espada e vem somente àqueles que aceitam-no humilde e alegremente. Portanto, decisivos para sua vinda sobre qualquer coração humano, são novos entendimentos e novas resoluções dentro dele.
Nisto está o mistério dos modos de Deus com os homens. Não estamos a par do porquê ele pensou que a alegria de ter seu próprio povo, que o amasse e ansiasse por ser igual a ele, valesse o risco de terríveis possibilidades de pecado e impiedade que isso abria. Nisto, como em todas as outras coisas, não somos capazes de sentar-nos em julgamento de Deus. Mas ele, certamente, limitou-se em nos criar, pois ele não pode compelir uma única alma a fazer sua vontade. Como qualquer plantador, ele planta sua semente e espera pacientemente pelo fruto de seu labor e, conquanto grande e incrivelmente longo seja seu investimento, ele ainda é mantido refém dos caprichos do coração humano, o solo no qual ele lançou amorosamente sua palavra eterna. E, deste solo dependem o máximo sucesso ou fracasso de todos os seus esforços.
O coração duro
Os corações duros do solo da margem da estrada absolutamente nada produzem. Estes ouvintes vivem num mundo totalmente diferente, não falam a mesma linguagem do Filho de Deus. Por quais motivos tais pessoas viriam ouvir Jesus? Curiosidade? Novidade? Moda? Talvez por qualquer deles, ou por todos. Não estavam, porém, querendo verdadeiramente ouvi-lo. Seja por presunçosa satisfação própria, ou por uma orgulhosa necessidade de saber tudo já, ou temor de exposição a alguma desconfortável nova verdade sobre si mesmos, suas mentes estavam trancadas contra o Senhor e seu evangelho.
O que deve ser feito com eles? Nada. Eles são sem esperança em sua teimosa dureza. Somente se Deus arasse um profundo sulco de ardente tragédia através de suas vidas poderia alguma abertura ser dada à semente viva. E se assim fosse, a dor seria abençoada.
O coração raso
 "Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser   profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou- se"
O coração raso do solo pedregoso não é como o coração duro do solo da beira da estrada, como aço, rejeitando o evangelho com desprezo indiferente, mas estes entusiásticos ouvintes são deploravelmente faltos de cuidadosa previsão. Emocionalmente excitáveis e impulsivos, eles agem por circunstâncias imediatas (multidões excitáveis, etc.) mais do que por um entendimento do que é ensinado. Eles são negligentes de futuras exigências e desafios. Eles não têm cogitado de longos pensamentos. O evangelho não desceu profundamente dentro de seu entendimento e vontade. Assim, quando as circunstâncias mudam, quando os dias difíceis de perseguição e adversidade chegam, não há raiz profunda de fé para sustentá-los. Eles não tinham pensado profundamente no reino e em seu eterno valor. Tornar-se um discípulo parecia apenas a coisa a fazer no momento.
"Imediatamente com alegria ..."
Esta é a própria razão pela qual aquele que vem muito rapidamente seguir Jesus precisa parar e pensar sobre o que isso significa. É por amor de nós que o Senhor freqüentemente esfria nosso entusiasmo descuidado, advertindo-nos a parar um momento e calcular o custo (Lucas 9:57-58). Ele quer que o acompanhemos todo o tempo e não que sejamos descarrilados por alguma dificuldade imprevista para um reino ao qual não chegamos a dar um valor suficientemente alto. É minha opinião que nada precisa mais ser ensinado hoje às pessoas interessadas no evangelho, religiosas ou não religiosas, do que o custo do discipulado. Aqueles que vêem ao reino e sobrevivem precisam estar profundamente comprometidos com Jesus.
-por Paul Earnhart

O coração apinhado (Mateus 13:7). Esta parte da história de Jesus sobre o semeador não se refere à semente lançada sobre uma já visível infestação de ervas, mas ao solo adulterado com sementes de plantas inúteis e daninhas. O solo é rico, profundo e receptivo, mas está corrompido. Os espinhos, que não produzirão nada de bom, simplesmente crescerão para sobrecarregar o solo e enfraquecer a boa semente até que ela, também, fique infrutífera. Deste solo possuído pelos espinhos Jesus diz, "O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera" (Mateus 13:22). À lista dos empecilhos da frutificação, Marcos acrescenta "as demais ambições" (4:19), e Lucas, "deleites da vida" (8:14).
"Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e  a sufocaram"
Alguns comentadores, especialmente os de tendência calvinista, descartam este caso como o de um coração não convertido, um que nunca recebeu a palavra do reino com plenitude de espírito. Isso parece improvável. No não convertido, nenhuma vida é produzida; a semente apodrece no chão. Aqui não há somente vida, mas crescimento. O fracasso deriva do que acontece depois, o crescimento de distrações surgidas da terra, que dividem o coração e dissipam a energia da alma.
O ponto todo da semente plantada não é o crescimento de uma planta, ainda que luxuriante, mas a produção de fruto. O filho do reino do céu não tem somente que parecer bom, mas ser bom e fazer o bem. O problema com o coração do solo espinhoso é que ele se tornou apinhado demais com preocupações concorrentes, e a semente de Deus não pode prosperar num coração dividido.
Quais são os espinhos que podem sangrar totalmente a vitalidade espiritual de um filho de Deus? Jesus é explícito. Os cuidados deste mundo podem fazê-lo. Preocupação constante com alimento e abrigo e o medo de não ter o suficiente não somente difamam a fidelidade de Deus, mas permitem que ansiedade descuidada roube de Deus as energias que lhe devemos (Mateus 6:25-34). Os cristãos que exaurem suas forças no temor e preocupação nunca florescerão, nem darão fruto. Por que nos enganamos? A preocupação não é somente desgastante, é pecaminosa. Ela diz, implicitamente, que Deus não nos ajudará e que precisamos nos arranjar sem ele.
O amor pelas coisas pode também sufocar efetivamente o espírito. Dinheiro e propriedade podem parecer tão tangíveis, tão reais e tão asseguradores, mas as riquezas são enganadoras. Elas prometem realização, porém nunca a dão (Eclesiastes 5:9-10). Elas prometem segurança, mas batem asas como uma ave selvagem (Provérbios 23:5). Precisamos lidar praticamente, antes que emocionalmente, com as coisas materiais. Todos sabemos intelectualmente que elas não duram. Elas são tão efêmeras como uma bola de neve no verão. Por que um homem seria tão tolo até o ponto de edificar sua vida na areia? Ainda, muitos cristãos buscam coisas materiais enquanto se enganam com sua rotina religiosa. Eles apenas acabam como mortos-vivos espirituais, freqüentando às assembléias da igreja e fingindo sua espiritualidade, enquanto seus filhos crescem para a mundanalidade aberta, sem a fraude religiosa de seus pais. Tais discípulos são plantas decorativas. Não espere que nada duradouro venha deles.
Finalmente, os "deleites da vida" podem agir para nos sugar. "O que há de errado com os prazeres?" alguém pergunta. "A vida do reino tem que ser uma longa dor de cabeça de miséria e negação de si mesmo?" A resposta à primeira pergunta é: "nada", à segunda é "não". Nada há de errado com o trabalhar diligentemente por nosso alimento, ou ter riqueza, ou gozar das coisas agradáveis que Deus nos deu ricamente (1 Timóteo 6:17). Mas qualquer delas, ou todas são erradas para aqueles que tem estado "sufocados" por elas, quando elas se tornaram a paixão de suas vidas. A palavra grega para "sufocado" em Lucas 8:14 é, mais tarde, no mesmo capítulo, dada como apertar (8:42). Algumas pessoas deixam que estas coisas intrinsecamente legítimas as dominem tanto que elas são possuídas e governadas por elas. Preocupações ou bênçãos legítimas tornam-se em temor, ganância ou ansiedade. Deus e seu reino estão apinhados até os limites. A voz de Deus se torna velada pelo clamor. As bênçãos de nosso Pai deveriam ser uma ocasião para seus filhos agradecerem a ele e servirem-no, mas elas podem facilmente se tornar a causa de nosso descontentamento e inutilidade.
Aqueles que escolhem o coração dividido, o coração apinhado, diz Jesus, não darão frutos que amadureçam (Lucas 8:14), literalmente, nunca levarão até o fim, nunca terminarão a tarefa.
Não podemos ter nenhuma ilusão sobre a atitude de Jesus para com aqueles que começam, porém nunca terminam. "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus" (Lucas 9:62). Nunca precisamos nos admirar como ele se sente sobre os indecisos. "Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:24). E certamente não temos motivo para duvidar de seu sentimento pelos infrutíferos. "Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta..." (João 15:2). Há um futuro no reino de Deus para os simples, ainda que tateantes, mas para o coração dividido, o coração apinhado, não há esperança. "... e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração" (Tiago 4:8).
-por Paul Earnhart

O coração raso é apaixonado, mas apressado. O evangelho deveria sempre trazer alegria, mas precisa ser uma alegria profunda o bastante para suportar os choques. Ela precisa ser o tipo de alegria que o tempo e a circunstância não podem tirar de nós (João 16:22-24). Precisa ser a alegria pela coisa justa (Lucas 10:17), e precisa ser uma alegria que vê a perseguição e o sofrimento por amor de Cristo como um privilégio e uma bênção (Lucas 6:22-23). Precisamos seguir os passos de nosso Senhor, "o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia" (Hebreus 12:2). Tornar-se um cristão é certamente uma experiência emocional, mas é também uma experiência da mente e da vontade.
(Mateus 13:5-6). Esta não era terra misturada com incontáveis pedrinhas, mas solo com menos de meio palmo de profundidade, sobre uma laje enterrada. Não havia lugar para a planta enraizar-se, por isso ela cresceu profusa e luxuriantemente. Mas o calor do sol revelou sua fraqueza. Ela floresceu nos dias frescos, mas morreu nos quentes, incapaz de suportar o próprio sol que, fossem as raízes mais profundas, tê-la-ia tornado ainda mais forte. Este solo, Jesus explicou, era como o homem "que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza" (Mateus 13:20-21).

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